A sucessão familiar 

Publicado em (13/04/2016 às 03:04:28)

A sucessão familiar 

 

Por Ana Rita Bittencourt e Rogério Faé Rodrigues

O processo de sucessão empresarial é um tema complexo e relevante. Não pode ser tratado de forma estritamente lógica e racional. Há componentes emocionais e irracionais. A complexidade aumenta quando se trata de escritórios de contabilidade. Além de sucessor e sucedido, o cliente também é protagonista. Um dos segredos de sucesso do escritório de contabilidade é a relação de confiança. Uma relação única e extremamente pessoal que se consolida entre contador e cliente. E anos de trabalho e relacionamento podem ser transformados em água, caso a sucessão não esteja planejada. O desafio é transferir para as próximas gerações a experiência e a relação de confiança construída junto aos clientes. A relevância do tema pode ser comprovada ao analisarmos pesquisa recente, realizada pela Trevisan em parceria com o Sescon/SP, em maio e junho de 2012. Dos 204 escritórios entrevistados, 79% têm o comando ainda nas mãos da 1a geração, 13% nas mãos da 2a geração e apenas 1% nas mãos da 3a geração. Os demais 7% são escritórios adquiridos de terceiros. A pesquisa revela que 80% dos escritórios acha importante planejar a sucessão, porém, apenas 42% têm sucessores interessados no negócio. A experiência mostra que algumas ações se repetem naqueles escritórios que conseguem ter sucesso na transição de 1a. para 2a. geração: Planejamento: a sucessão não acontece em um dia e não ocorre apenas na morte do fundador. É um longo processo de transferência de know how, conhecimento e relacionamento com os clientes. Esse processo deve ser previamente pensado e vivenciado pelas duas gerações. Além disso, não deve estar focado apenas em um sucessor. E caso não haja sucessores interessados, faz parte do planejamento buscar outras alternativas, como gestão por profissional não familiar, associações ou até mesmo a venda. Desapego: sucessão remete a sentimentos conflitantes… Ao mesmo tempo em que quero passar o bastão, acho que não estão preparados. A verdade é que os sucessores nunca estarão 100% preparados aos olhos exigentes da geração anterior. Mas é necessário dar espaço para os mais jovens, deixar que cometam erros, que cresçam. É essencial se desapegar do dia a dia e delegar responsabilidades. Estudo, preparo, competência: Ser sucessor não é cargo garantido! A nova geração, precisa estudar, se preparar, ter de seus projetos de vida e, se realmente seu propósito é dar continuidade ao escritório de contabilidade do pai, vai precisar ser muito competente pra isso! Combinados: combinar a regra do jogo é muito importante para evitar desgastes no dia a dia. Definir papel, responsabilidades, processo decisório, remuneração, promoção, resultados esperados são apenas alguns exemplos do que deve estar combinado e até documentado em um acordo de sócios. Sucessão, patrimônio + legado: mais do que receber um escritório ou uma carteira de clientes, a nova geração está recebendo um estilo de trabalho, uma forma de fazer e um conjunto de valores que sustentam as atitudes – e tudo precisa ser transmitido para a nova geração. É isso que vai garantir a tranquilidade na relação com os clientes. E a transmissão de um legado exige tempo… Ainda que o tema seja delicado, há muito para ser feito no planejamento e encaminhamento da sucessão nos escritórios de contabilidade. Não é preciso ter pressa para passar o bastão. Mas é preciso sim, investir na formação e no desenvolvimento dos sucessores o quanto antes. Quando chegar a hora, sucessores e sucedidos saberão. Ficaram aqui algumas dicas para reflexão. Pense a respeito!